quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Especialista: Eventos esportivos descumprem metas socioambientais

Amália Safatle
 
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De São Paulo


Não é de hoje que se busca imprimir nos grandes eventos esportivos uma agenda socioambiental. Mais que isso, o Brasil assumiu esse compromisso em sua candidatura, e muito provavelmente o uso desse discurso o fez amealhar votos que o ajudaram a conquistar a sede.


Mas a quantas anda o cumprimento desse compromisso, vis-à-vis a proposta enviada para órgãos como o Comitê Olímpico Internacional? Uma agenda socioambiental pode abarcar de questões urbanísticas complexas à mera compensação do carbono emitido por ocasião do evento, de forma a neutralizar os gases de efeito estufa gerados - o que normalmente se dá por meio do plantio de árvores.


Mas nem isso parece ter evoluído. O que é um sinal de que o restante, ainda menos. "Observar o que está acontecendo com o programa de neutralização é um indicativo do que está acontecendo com o resto e tem a vantagem de se poder fiscalizar com mais facilidade, pois se trata de um dado mensurável e quantificável", diz Francisco Maciel, diretor da consultoria Bravo Ambiental e que trabalha há muitos anos com projetos de neutralização de carbono.


Segundo ele, há uma série de perguntas em aberto. O que exatamente terá de ser compensado? As emissões geradas pelos jogos em si? Pela vinda de turistas? Pelo aparelhamento das cidades? De onde virão os recursos para a compensação? Virão do turista? Por meio de que mecanismos isso será cobrado? Como está a preparação de viveiros para essas mudas? Serão plantadas onde? Quem vai fiscalizar? Quais os prazos de cumprimento? Como fazer para que a mudança de mandatos de prefeitos e governadores não sirva para atribuir a dívida para a gestão anterior ou empurrar o compromisso para gestão seguinte?


"Nos eventos esportivos mundiais há um histórico de não-cumprimento das metas socioambientais, a começar pela meta de compensação de carbono", afirma Maciel. "O projeto da (Copa do Mundo na) África do Sul, por exemplo, não rolou".


Mas não é preciso ir longe. Os Jogos Pan-Americanos no Rio também fizeram um projeto de compensação para inglês ver, que não saiu do papel. Conforme reportagem publicada no ano passado no jornal O Estado de S. Paulo, a Petrobras e a prefeitura deixaram de plantar 100 mil mudas entre o Parque da Pedra Branca e o Parque Nacional da Tijuca.


 
Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.

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